São Paulo, 27 de
dezembro de 2010.
Depois que deixei meu
irmão e a Tiana na cozinha, subi para o meu quarto e fiquei
ali..durante uns bons minutos, apenas observando as minhas coisas.
Podem até me chamar de emotivo, mas estava realmente com saudades do
meu quarto. Vampiros sentem essa necessidade. A de ter algum lugar
para voltar. Isso não é muito diferente de vocês humanos. Quantas
e quantas vezes viajam mas depois, sentem a vontade de estar de volta
ao lar? Um lar é o local onde escrevemos nossa história, onde todas
as nossas impressões ficam marcadas. Onde guardamos nossos tesouros
materiais e para onde sempre voltamos quando nos sentimos sós ou
fracos.
Fui tomar banho e,pela
primeira vez em três meses, reparei na minha imagem no espelho.
Tomei um susto. Aquele ali não era o Henrique velho de guerra. Era
outro cara! Eu pensava que todo vampiro ficava pálido, cinza, com
olheiras, cara de gótico em fim de carreira, mas eu não! Fui olhar
de perto minha imagem. De cara magro, tinha virado um rato de
academia. Tava forte mesmo! Fiz até aquela pose de "Johny Bravo" –
Tá vendo aquele cara? Foi por ali! Músculos definidinhos..barriga
tanquinho. Uau!!! Esfreguei os olhos. Seria uma miragem? Não estava
com cara de “data de validade vencida”. Eu era a imagem da saúde
e disposição. Mas que merda era aquela? Meus cabelos tinham
crescido um pouco mais também e os olhos..ah..os olhos eram algo a
parte.Estranhos na melhor das hipóteses. Eu sempre tinha curtido
meus olhos, na verdade eram a única coisa que curtia na minha
pitoresca aparência. Minha mãe costumava dizer que eu tinha herdado
os olhos do meu avô. Eram da cor do mar revolto segundo ela. Um
verde meio esquisito..cor de burro quando foge. Mas era o que me
salvava em minhas modestas excursões no universo feminino. -
Nossa..elas diziam..você tem olhos tão lindos” Mas também era
só...eu era o cara dos olhos bonitos.
Aquilo me
intrigou..Clara era linda..mas era pálida..quase acinzentada. Moacir
também era pálido, enrugado feito maracujá de gaveta. Puxei pela
memória tentando lembrar se tinha visto outro vampiro. Ah...as
mulheres do primeiro dia..eram pálidas mas não eram
acinzentadas..mantinham um frescor de vida. Mas porque? Alguns
vampiros seriam diferentes de outros? Anotação mental – Preciso
conhecer mais vampiros para ter uma melhor base de análise.
Depois do meu momento
“Narciso” tratei de tomar meu banho, trocar de roupa e descer
para encarar o Yuri. Tinha muitas explicações a dar e nenhuma ideia
de por onde começar.
O encontrei calmamente
sentado na sala de jogos. - ser rico tem destas coisas, uma sala para
cada coisa, meu pai tinha até sala de meditação. Estava jogando
GTA e me aproximei querendo jogar também. Ele desligou o console
para minha decepção. Colocou o controle de lado, me encarou e com
toda seriedade que lhe era peculiar, disparou o morteiro em minha
direção.
Eu só não esperava
que o “morteiro” fosse real.
Que barulho foi aquele? Teria sido
algum transformador? Mais explosões. Que diabos!!! Tiana vem
correndo da cozinha .
-Henrique, Yuri, o
moço da portaria ligou dizendo que tem bomba aqui no condominio!!
- Bomba? Que bomba
Tiana? O que está acontecendo afinal de contas?
- Sei lá Henrique,
disseram que a polícia já tá vindo e que não é pra sair de
casa.
Nesse ponto eu já
tinha desistido de falar a verdade para o meu irmão e estava
interessado em saber que tipo de bombas eram aquelas e justo em
Alphaville. Meus pais tinham escolhido aquele condomínio em especial
por justamente ser um dos mais seguros do país. Para quem não sabe,
Alphaville é dividido em dois módulos. O primeiro que chamam
carinhosamente de Alphavela que é onde moram os ricos nem tão ricos
e o lugar onde moro, que é pra gente que tem mesmo muito dinheiro.
- E então Henri,
vai contar o que aconteceu com você ou não? - Yuri ainda
insistiu.
- Deixa pra mais
tarde, esse negócio de bomba ainda não foi resolvido e quero
saber o que aconteceu.
Esperei por mais alguns
minutos e como nada acontecesse relaxei, mas não iria contar nada ao
Yuri por enquanto, melhor esperar por alguma outra oportunidade.
Estava indo em direção
a cozinha quando ouvi um estrondo vindo da sala corri para lá e dei
de cara com 8 homens fortemente armados e fardados. Um deles mantinha
Yuri sob a mira de uma arma.
- Ei..o que está
acontecendo aqui? Falei indo em direção ao meu irmão, mas fui
agarrado por um cara que devia ter no mínimo 1,90 de altura.
O grandão apertava meu
pescoço em uma espécie de mata-leão e decidi que o melhor seria
manter a calma. Não por mim, mas pela segurança da minha família.
Tiana veio da cozinha e também foi imobilizada.
- Fiquem quietos e
ninguém será ferido. O sotaque do grandão parecia ser russo.
Todos fardados e encapuzados e, o pior, fortemente armados. Se eu
tivesse algum tipo de reação idiota poderiam matar meu irmão e
a Tiana.
- Olha..leva tudo
o que quiserem, tenho a senha do cofre, libero tudo pra vocês,
apenas soltem a gente,nem vamos ligar pra polícia nem nada –
argumentei tentando ganhar tempo.
- Cala a boca
moleque, não queremos seu dinheiro nem as jóias da mamãe, já
estamos com o que viemos buscar.
Deram uma coronhada na
nuca do Yuri e ele desmaiou, reagi e também levei uma que não doeu,
mas fingi perder os sentidos porque temi pelo que talvez fizessem com
a pobre da Tiana.
Para eles foi fácil
sair do condomínio. Tinham entrado com os camburões da unidade de
bombas da polícia civil. Colocar-nos lá dentro nem deu trabalho.
Yuri continuava desmaiado. E eu bem acordado não saberia dizer onde
estávamos indo. Pelas minhas contas, devemos ter andado por cerca de
2 horas e então o veículo parou. Yuri já tinha acordado e ao
perceber que seriamos libertados, falei baixo para que ele ficasse
quieto. A porta se abriu e o mesmo grandalhão nos arrastou para fora
e foi nos empurrando em direção ao que parecia ser um galpão. Não
pude identificar direito porque estava vendado, mas minha visão me
permitia ver algumas coisas, mesmo neste estado.
Fomos jogados em um
lugar e a porta se fechou, foi somente aí que falei.
- Yuri você está
bem? Está muito machucado?
- Não..só dói a
cabeça. Mas onde estamos? Quem são aqueles homens? É sequestro?
No Brasil sequestro é
quase que uma moda..sequestro-relâmpago então deve ser o mais
praticado pela bandidagem local. Só que aqueles caras tinham
arriscado muito para um sequestro à toa, pelo menos na minha
opinião.
Estávamos quietos.
Yuri parecia não ter vontade de falar e muito menos eu que àquela
altura, sentia uma extrema dor no meu “estômago”. Fazia dois
dias que não caçava e isso não era bom sinal. Clara havia me
explicado que ficar sem alimentação poderia ser perigoso, mas não
tinha entrado em maiores detalhes. Disse apenas: Acorde e vá a caça..isso
te manterá em segurança. A dor cada vez mais forte..eu a ponto de
pirar..meu irmão ali..parado vendado..sem falar uma única palavra.
Que inferno! Estava na cara de que foram ali por um motivo. E o
motivo éramos nós, teríamos que esperar as tais negociações agora
mas e se meu pai não pagasse? Ideia idiota, mesmo que não gostasse
dos filhos, não correria o risco de ser manchete nos jornais por
negligência, é claro que pagaria e ainda posaria de bonzinho em
capas de revista, como pai prestimoso e que ama os filhos. Seria
quase um herói.
Maldita dor!!! Pensa
Henrique..pensa..medita, faz alguma coisa..essa dor tem que parar.
Ela havia dito que era perigoso mas não tinha falado sobre essa
maldita dor. O máximo que eu já tinha sentido era aquele tipo de
desconforto que dá quando a gente passa um pouco da hora do almoço,
mas aquilo era infinitamente maior..estava enlouquecendo. Pensa em
outra coisa...pensa em sei lá..pensa em andar de skate, pensa no livro que não terminou de ler, pensa no empadão de
camarão..; não..não dá..tá doendo demais.
- Henrique...porque
você tá se mexendo tanto? Está machucado? - A voz do Yuri me
tirou um pouco da onda de insanidade.
- Não maninho,
estou bem..só que ficar aqui amarrado e algemado não é nada
confortável, além disso quero ir ao banheiro.
- Ahh tá..entendi –
e novamente ele caiu no mais profundo silêncio.
Agora eu já estava
alucinado, suando (sim..vampiros soam, pelo menos eu suo) a dor tinha
passado de insuportável e não conseguia mais pensar, a única coisa
que me movia era o cheiro de sangue..e o sangue do meu irmão.
Não..de jeito nenhum..jamais faria mal ao meu irmão..jamais.
A porta se abriu e
alguém veio em nossa direção. Nosso carcereiro vinha com dois
pratos em uma bandeia – Olha..aqui tem comida. Vou tirar a venda
dos olhos de vocês e desamarrar as mãos, mas se tentarem alguma
gracinha, vão comer é bala entenderam?
O primeiro a ser
desamarrado foi Yuri, o cara tirou a venda dos olhos do meu irmão e
em seguida fez o mesmo comigo. Naquela altura eu já não pensava,
estava alucinado não parei para raciocinar..a única coisa que eu
queria era me alimentar e aquele homem na minha frente seria minha
salvação.
Quando estendeu o prato
em minha direção, recuou um pouco, amedrontado tentou disparar
contra mim mas não teve tempo. Saltei sobre ele com uma rapidez
impressionante e, no momento seguinte, o único barulho que se ouvia
era o gorgolejar de sua traqueia destruída. O sangue jorrava e eu
me lambuzei. Não era o vampiro gentil que tratava de deixar pescoços
intactos para não ser descoberto. Eu queria apenas o sangue..não
importava como. O verme estrebuchava e senti a vida esvaindo do corpo
do canalha. Devo ter “secado” o infeliz e bem rápido. Foi neste
momento que me lembrei do Yuri e olhei em sua direção. Meu irmão
tinha ido para um canto da parede, estava chorando apavorado. Estendi
a mão em sua direção mas fui repelido. Ele tinha medo de mim!
Limpei o sangue da boca o melhor que pude e foi somente aí que olhei
o estrago que tinha feito. Muito mais do que rasgar a traqueia do
infeliz eu o tinha partido em dois. Como fiz aquilo não posso dizer,
só sei que algo dentro de mim veio à tona..algo de que não quero
me lembrar..algo do qual me envergonho. Não fui nada naquele
instante, além de um animal, um predador sem nenhum tipo de
consciência.
- Yuri, me desculpa,
não queria que fosse desta forma, queria te contar tudo do meu
jeito, mas agora não tem mais volta. Você já sabe – tentei me
aproximar mas ele se afastou.
Não imaginam o quanto
aquilo me doeu. Meu irmão tinha medo de mim e chorava como criança.
- Olha temos que
sair daqui, vou deixa-lo em segurança, depois sumo e você nunca
mais vai me ver certo?
Ele assentiu com a
cabeça e aquilo foi pior do que uma punhalada. Não queria mais me
ver. Eu estava mesmo sozinho.
_ Me segue, e
quando eu der o sinal você corre, mas corre sem olhar para trás ok?
Te encontro lá fora e depois te levo para casa, eu prometo.
Saímos do quarto que
nos serviu de cela e passamos por um corredor. Como eu havia visto de
relance, tínhamos sido levados para uma espécie de galpão. Os
outros caras deveriam estar todos no lugar de carga e descarga
porque pude ouvir as vozes. Fiz sinal para que meu irmão ficasse
atrás de mim, abri a porta que separava o lugar onde estávamos do
lugar onde eles se encontravam. Não sabia se era resistente a balas,
não sabia se teria força o suficiente para enfrentar a todos, mas
estava disposto a morrer ali mesmo se isso significasse que Yuri
ficaria bem.
Abri a porta e a
maldita rangeu..agora não havia nenhuma chance de passar
despercebido. Coloquei-me na frente de Yuri, contei os homens. Eram 7
no local.
- Como é que
vocês...o grandão parou de falar ao olhar para os meus olhos.
Novamente a tentativa de disparo. Não deu tempo! Eu já tinha uma
ideia de que poderia ser rápido, mas não imaginava o quanto. Em um
movimento, quebrei o pescoço do desgraçado. Senti as balas queimando minha carne, eram um incomodo mas não o suficiente para deter-me. Agarrei o que estava mais próximo. Outro pescoço quebrado. Agora restavam cinco homens. Senti o cheiro de medo. Estavam mesmo apavorados. Fui andando em direção a um baixinho com cara de folgado. Eu avançando e ele recuando. Cheguei a sorrir quando estendi minha mão em direção ao seu pescoço. Ele tentou correr e até pensou que estava livre, mas apareci logo às suas costas e ele gritou desesperado. Implorou pela vida, como se esta valesse alguma coisa. Esse eu mordi com vontade. Precisava de sangue para me manter e conseguir dar conta dos outros. Joguei o corpo de lado e procurei pelos outros 4. Tinham fugido os covardes. Deveria procura-los? Não..iria perder muito tempo e tinha que colocar meu irmão em segurança. Duvidei que aqueles homens pudessem tentar alguma coisa contra mim, ainda mais depois do que viram. Limpei o sangue da boca e fui ao encontro do meu irmão. O encontrei abaixado atrás de um contêiner.
- Vamos Yuri, vou te
levar pra casa. Diga a nossos pais...comecei a falar mas ele me interrompeu com um gesto.
- Dizer o que
Henrique? Que fomos sequestrados e que você é um vampiro e me
tirou dessa? Desculpa, mas não vai dar. Se eu for pra casa você
vai junto. Desculpa se tive medo, é que nunca vi você daquele
jeito, foi terrível demais, mas eu te entendo. Acho que no teu
lugar teria feito a mesma coisa. Não me importa o que você é
agora, me importa o que sempre foi pra mim. Você sempre cuidou de
mim, sempre esteve por perto, como agora. E eu não vou te deixar ir
embora.
Abracei meu irmão.
Senti um imenso alívio. A verdade tinha sido contada..da pior forma.
Eu havia jogado bem alto, mesmo sem querer, mas mesmo assim, ainda
tinha ganho a partida. Foi um golpe de sorte.
-Henrique, como a gente
vai sair daqui? Nem sei onde estamos. E como vamos explicar isso tudo
em casa, tem alguma ideia?
Não tenho, cara..não
tenho.
E não tinha mesmo,
tudo o que acontecera fora fruto da minha falta de controle. E depois
da necessidade de manter a vida do meu irmão. Eu não tinha
planejado nada, simplesmente aconteceu e pronto.
- Bom..antes de mais
nada precisamos saber onde a gente está – falei indo em direção
a rua que, dado o horário estava deserta. Consegui achar a placa com o nome mas não adiantou de nada. São Paulo é muito grande e existem
lugares que jamais tinha ouvido falar. O melhor que a gente tem a
fazer é pegar um táxi. Vamos procurar um ponto, deve ter um em
algum lugar por aqui.
Eu ia calado,pensando
no que dizer quando chegasse em casa. É logico que tudo aquilo iria
acabar aparecendo no noticiário. Tiana tinha ficado em casa, e, a
essas alturas já teria contatado meus pais.
Chegamos a uma avenida
que deveria ser a principal daquele bairro e daí até achar um táxi
não foi difícil.
- Estão indo pra
onde? - o motorista perguntou antes de nos deixar entrar – já
era bem tarde e dois caras poderiam ser perigosos.
- Por favor, nos
leve até Alphaville senhor. - Yuri se adiantou dando o endereço.
Eu estava cansado, a jaqueta encobria o sangue dos ferimentos e tive que me concentrar a fim de passar despercebido por algum tipo de observação mais atenta por parte do taxista.
- Alphaville? Como
vieram parar em Ferraz de Vasconcelos? Estão bem longe de casa
hein..e o motorista riu, provavelmente achando muito engraçado
dois boyzinhos de Alphaville enfiados na periferia.
- Viemos visitar
um amigo e Yuri deu a conversa por encerrada.
O trajeto foi feito em
silêncio, me ajeitei como pude no banco de trás, sentindo um pouco de dor por conta dos vários tiros que tinha levado. Chegamos em casa e a primeira coisa que notei foi o carro do
meu pai.
Ótimo..era tudo o que
eu precisava, o coroa estava em casa e agora teria que explicar o que tinha acontecido. Fora o carro do meu pai, haviam também varias viaturas do
grupo anti-sequestro. Então eles haviam sido acionados. Eu estava em
maus lençóis.
Yuri olhou para mim
como se perguntando o que faríamos e eu não sabia. Se fosse somente
meu pai até que poderia dar um jeito..ou melhor não poderia porque
a Tiana viu os caras levando a gente. Acho que teria sido melhor ter
ficado por lá, e poderíamos mesmo ter esperado se não fosse a maldita
fome. E agora?
Bom..ficar lá parado
igual dois espantalhos não parecia ser o mais inteligente e já que
era inevitável o melhor seria enfrentar a situação.
Passamos por dois
investigadores que ficaram nos olhando. Novamente tive de me concentrar para que não me olhassem mais atentamente . A porta de entrada estava aberta. A sala cheia de
policiais e entre eles, parecendo um titã, estava meu pai. Porque eu
sempre tinha que gelar ao vê-lo? Porque não podia me comportar
normalmente? Porque a simples presença do meu pai tinha a capacidade
de me fazer parecer um bebê de fraldas?
Minha mãe, ao nos ver, deu vazão a toda sua teatralidade. Correu em nossa direção, nos
abraçando e beijando, chorando e rindo ao mesmo tempo. Era muito
estranha minha mãe. Acho que nos amava a seu modo, mas seu mundo
girava em torno dele...tudo era por ele, nós, seus filhos éramos
apenas consequência.
Meu pai, pego de
surpresa pela nossa chegada exitou por um milésimo de segundo, para
logo depois, retomar sua costumeira postura. Imperativamente
dirigiu-se ao delegado.
- Como vê meus
filhos estão em casa sãos e salvos. Creio que você e seus homens
podem se retirar Fábio. Obrigado pela presteza e se precisar de
seus serviços novamente entro em contato.
O delegado ia tentar
argumentar alguma coisa pois abriu a boca e em seguida fechou.
Debater com meu pai era algo que ninguém gostava de fazer. Ele
sempre ganhava, de um jeito ou de outro.
Antes que o policial
saísse, meu pai entregou a ele um envelope. Creio que era grana..ele
sabia que cada pessoa tem um preço e não exitava em pagar contanto
que tudo saísse da forma que ele desejava.
Após a saída dos
policiais, ficamos ali parados. Yuri e eu, esperando que meu pai
dissesse alguma coisa. Depois de seu show particular, minha mãe
estava calmamente sentada no sofá, admirando seu novo bracelete.
- Pai...comecei a falar e fui interrompido.
- Shitt...e então
ele mediu-me da cabeça aos pés, senti seus olhos sobre mim e era
como se lesse minha alma. Aquilo sempre me deixou inquieto e agora
mais ainda.
- Não preciso de
explicações Henrique.
Saiu da sala sem uma
única palavra a mais. Minha mãe vendo que ele subia as escadas
apressou-se em segui-lo e ficamos apenas eu e Yuri na sala. Sem
entender nada. Tínhamos nos preparado para enfrentar um dragão que
não existiu. Meu pai nem sequer mencionara minha ausência
prolongada, não falara nada sobre minha súbita
mudança...nada..apenas, e como sempre, o maldito silêncio. Viver
naquela casa e dividir o mesmo espaço com ele seria uma tarefa
complicada..mas eu ficaria. Ali era minha meu espaço também e ele
teria que me engolir.
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