terça-feira, 21 de abril de 2015

E a fera dá as caras





São Paulo, 27 de dezembro de 2010.



Depois que deixei meu irmão e a Tiana na cozinha, subi para o meu quarto e fiquei ali..durante uns bons minutos, apenas observando as minhas coisas. Podem até me chamar de emotivo, mas estava realmente com saudades do meu quarto. Vampiros sentem essa necessidade. A de ter algum lugar para voltar. Isso não é muito diferente de vocês humanos. Quantas e quantas vezes viajam mas depois, sentem a vontade de estar de volta ao lar? Um lar é o local onde escrevemos nossa história, onde todas as nossas impressões ficam marcadas. Onde guardamos nossos tesouros materiais e para onde sempre voltamos quando nos sentimos sós ou fracos.
Fui tomar banho e,pela primeira vez em três meses, reparei na minha imagem no espelho. Tomei um susto. Aquele ali não era o Henrique velho de guerra. Era outro cara! Eu pensava que todo vampiro ficava pálido, cinza, com olheiras, cara de gótico em fim de carreira, mas eu não! Fui olhar de perto minha imagem. De cara magro, tinha virado um rato de academia. Tava forte mesmo! Fiz até aquela pose de "Johny Bravo" – Tá vendo aquele cara? Foi por ali! Músculos definidinhos..barriga tanquinho. Uau!!! Esfreguei os olhos. Seria uma miragem? Não estava com cara de “data de validade vencida”. Eu era a imagem da saúde e disposição. Mas que merda era aquela? Meus cabelos tinham crescido um pouco mais também e os olhos..ah..os olhos eram algo a parte.Estranhos na melhor das hipóteses. Eu sempre tinha curtido meus olhos, na verdade eram a única coisa que curtia na minha pitoresca aparência. Minha mãe costumava dizer que eu tinha herdado os olhos do meu avô. Eram da cor do mar revolto segundo ela. Um verde meio esquisito..cor de burro quando foge. Mas era o que me salvava em minhas modestas excursões no universo feminino. - Nossa..elas diziam..você tem olhos tão lindos” Mas também era só...eu era o cara dos olhos bonitos.
Aquilo me intrigou..Clara era linda..mas era pálida..quase acinzentada. Moacir também era pálido, enrugado feito maracujá de gaveta. Puxei pela memória tentando lembrar se tinha visto outro vampiro. Ah...as mulheres do primeiro dia..eram pálidas mas não eram acinzentadas..mantinham um frescor de vida. Mas porque? Alguns vampiros seriam diferentes de outros? Anotação mental – Preciso conhecer mais vampiros para ter uma melhor base de análise.
Depois do meu momento “Narciso” tratei de tomar meu banho, trocar de roupa e descer para encarar o Yuri. Tinha muitas explicações a dar e nenhuma ideia de por onde começar.
O encontrei calmamente sentado na sala de jogos. - ser rico tem destas coisas, uma sala para cada coisa, meu pai tinha até sala de meditação. Estava jogando GTA e me aproximei querendo jogar também. Ele desligou o console para minha decepção. Colocou o controle de lado, me encarou e com toda seriedade que lhe era peculiar, disparou o morteiro em minha direção.
Eu só não esperava que o “morteiro” fosse real.
Que barulho foi aquele? Teria sido algum transformador? Mais explosões. Que diabos!!! Tiana vem correndo da cozinha .
 -Henrique, Yuri, o moço da portaria ligou dizendo que tem bomba aqui no condominio!!
- Bomba? Que bomba Tiana? O que está acontecendo afinal de contas?
- Sei lá Henrique, disseram que a polícia já tá vindo e que não é pra sair de casa.
Nesse ponto eu já tinha desistido de falar a verdade para o meu irmão e estava interessado em saber que tipo de bombas eram aquelas e justo em Alphaville. Meus pais tinham escolhido aquele condomínio em especial por justamente ser um dos mais seguros do país. Para quem não sabe, Alphaville é dividido em dois módulos. O primeiro que chamam carinhosamente de Alphavela que é onde moram os ricos nem tão ricos e o lugar onde moro, que é pra gente que tem mesmo muito dinheiro.
- E então Henri, vai contar o que aconteceu com você ou não? - Yuri ainda insistiu.
- Deixa pra mais tarde, esse negócio de bomba ainda não foi resolvido e quero saber o que aconteceu.
Esperei por mais alguns minutos e como nada acontecesse relaxei, mas não iria contar nada ao Yuri por enquanto, melhor esperar por alguma outra oportunidade.
Estava indo em direção a cozinha quando ouvi um estrondo vindo da sala corri para lá e dei de cara com 8 homens fortemente armados e fardados. Um deles mantinha Yuri sob a mira de uma arma.
- Ei..o que está acontecendo aqui? Falei indo em direção ao meu irmão, mas fui agarrado por um cara que devia ter no mínimo 1,90 de altura.
O grandão apertava meu pescoço em uma espécie de mata-leão e decidi que o melhor seria manter a calma. Não por mim, mas pela segurança da minha família. Tiana veio da cozinha e também foi imobilizada.
- Fiquem quietos e ninguém será ferido. O sotaque do grandão parecia ser russo. Todos fardados e encapuzados e, o pior, fortemente armados. Se eu tivesse algum tipo de reação idiota poderiam matar meu irmão e a Tiana.
- Olha..leva tudo o que quiserem, tenho a senha do cofre, libero tudo pra vocês, apenas soltem a gente,nem vamos ligar pra polícia nem nada – argumentei tentando ganhar tempo.
- Cala a boca moleque, não queremos seu dinheiro nem as jóias da mamãe, já estamos com o que viemos buscar.
Deram uma coronhada na nuca do Yuri e ele desmaiou, reagi e também levei uma que não doeu, mas fingi perder os sentidos porque temi pelo que talvez fizessem com a pobre da Tiana.
Para eles foi fácil sair do condomínio. Tinham entrado com os camburões da unidade de bombas da polícia civil. Colocar-nos lá dentro nem deu trabalho. Yuri continuava desmaiado. E eu bem acordado não saberia dizer onde estávamos indo. Pelas minhas contas, devemos ter andado por cerca de 2 horas e então o veículo parou. Yuri já tinha acordado e ao perceber que seriamos libertados, falei baixo para que ele ficasse quieto. A porta se abriu e o mesmo grandalhão nos arrastou para fora e foi nos empurrando em direção ao que parecia ser um galpão. Não pude identificar direito porque estava vendado, mas minha visão me permitia ver algumas coisas, mesmo neste estado.
Fomos jogados em um lugar e a porta se fechou, foi somente aí que falei.
- Yuri você está bem? Está muito machucado?
- Não..só dói a cabeça. Mas onde estamos? Quem são aqueles homens? É sequestro?
No Brasil sequestro é quase que uma moda..sequestro-relâmpago então deve ser o mais praticado pela bandidagem local. Só que aqueles caras tinham arriscado muito para um sequestro à toa, pelo menos na minha opinião.
Estávamos quietos. Yuri parecia não ter vontade de falar e muito menos eu que àquela altura, sentia uma extrema dor no meu “estômago”. Fazia dois dias que não caçava e isso não era bom sinal. Clara havia me explicado que ficar sem alimentação poderia ser perigoso, mas não tinha entrado em maiores detalhes. Disse apenas: Acorde e vá a caça..isso te manterá em segurança. A dor cada vez mais forte..eu a ponto de pirar..meu irmão ali..parado vendado..sem falar uma única palavra. Que inferno! Estava na cara de que foram ali por um motivo. E o motivo éramos nós, teríamos que esperar as tais negociações agora mas e se meu pai não pagasse? Ideia idiota, mesmo que não gostasse dos filhos, não correria o risco de ser manchete nos jornais por negligência, é claro que pagaria e ainda posaria de bonzinho em capas de revista, como pai prestimoso e que ama os filhos. Seria quase um herói.
Maldita dor!!! Pensa Henrique..pensa..medita, faz alguma coisa..essa dor tem que parar. Ela havia dito que era perigoso mas não tinha falado sobre essa maldita dor. O máximo que eu já tinha sentido era aquele tipo de desconforto que dá quando a gente passa um pouco da hora do almoço, mas aquilo era infinitamente maior..estava enlouquecendo. Pensa em outra coisa...pensa em sei lá..pensa em andar de skate, pensa no livro que não terminou de ler, pensa no empadão de camarão..; não..não dá..tá doendo demais.
- Henrique...porque você tá se mexendo tanto? Está machucado? - A voz do Yuri me tirou um pouco da onda de insanidade.
- Não maninho, estou bem..só que ficar aqui amarrado e algemado não é nada confortável, além disso quero ir ao banheiro.
- Ahh tá..entendi – e novamente ele caiu no mais profundo silêncio.
Agora eu já estava alucinado, suando (sim..vampiros soam, pelo menos eu suo) a dor tinha passado de insuportável e não conseguia mais pensar, a única coisa que me movia era o cheiro de sangue..e o sangue do meu irmão. Não..de jeito nenhum..jamais faria mal ao meu irmão..jamais.
A porta se abriu e alguém veio em nossa direção. Nosso carcereiro vinha com dois pratos em uma bandeia – Olha..aqui tem comida. Vou tirar a venda dos olhos de vocês e desamarrar as mãos, mas se tentarem alguma gracinha, vão comer é bala entenderam?
O primeiro a ser desamarrado foi Yuri, o cara tirou a venda dos olhos do meu irmão e em seguida fez o mesmo comigo. Naquela altura eu já não pensava, estava alucinado não parei para raciocinar..a única coisa que eu queria era me alimentar e aquele homem na minha frente seria minha salvação.
Quando estendeu o prato em minha direção, recuou um pouco, amedrontado tentou disparar contra mim mas não teve tempo. Saltei sobre ele com uma rapidez impressionante e, no momento seguinte, o único barulho que se ouvia era o gorgolejar de sua traqueia destruída. O sangue jorrava e eu me lambuzei. Não era o vampiro gentil que tratava de deixar pescoços intactos para não ser descoberto. Eu queria apenas o sangue..não importava como. O verme estrebuchava e senti a vida esvaindo do corpo do canalha. Devo ter “secado” o infeliz e bem rápido. Foi neste momento que me lembrei do Yuri e olhei em sua direção. Meu irmão tinha ido para um canto da parede, estava chorando apavorado. Estendi a mão em sua direção mas fui repelido. Ele tinha medo de mim! Limpei o sangue da boca o melhor que pude e foi somente aí que olhei o estrago que tinha feito. Muito mais do que rasgar a traqueia do infeliz eu o tinha partido em dois. Como fiz aquilo não posso dizer, só sei que algo dentro de mim veio à tona..algo de que não quero me lembrar..algo do qual me envergonho. Não fui nada naquele instante, além de um animal, um predador sem nenhum tipo de consciência.
 - Yuri, me desculpa, não queria que fosse desta forma, queria te contar tudo do meu jeito, mas agora não tem mais volta. Você já sabe – tentei me aproximar mas ele se afastou.
Não imaginam o quanto aquilo me doeu. Meu irmão tinha medo de mim e chorava como criança.
 - Olha temos que sair daqui, vou deixa-lo em segurança, depois sumo e você nunca mais vai me ver certo?
Ele assentiu com a cabeça e aquilo foi pior do que uma punhalada. Não queria mais me ver. Eu estava mesmo sozinho.
_ Me segue, e quando eu der o sinal você corre, mas corre sem olhar para trás ok? Te encontro lá fora e depois te levo para casa, eu prometo.
Saímos do quarto que nos serviu de cela e passamos por um corredor. Como eu havia visto de relance, tínhamos sido levados para uma espécie de galpão. Os outros caras deveriam estar todos no lugar de carga e descarga porque pude ouvir as vozes. Fiz sinal para que meu irmão ficasse atrás de mim, abri a porta que separava o lugar onde estávamos do lugar onde eles se encontravam. Não sabia se era resistente a balas, não sabia se teria força o suficiente para enfrentar a todos, mas estava disposto a morrer ali mesmo se isso significasse que Yuri ficaria bem.
Abri a porta e a maldita rangeu..agora não havia nenhuma chance de passar despercebido. Coloquei-me na frente de Yuri, contei os homens. Eram 7 no local.
- Como é que vocês...o grandão parou de falar ao olhar para os meus olhos. Novamente a tentativa de disparo. Não deu tempo! Eu já tinha uma ideia de que poderia ser rápido, mas não imaginava o quanto. Em um movimento, quebrei o pescoço do desgraçado. Senti as balas queimando minha carne, eram um incomodo mas não o suficiente para deter-me. Agarrei o que estava mais próximo. Outro pescoço quebrado. Agora restavam cinco homens. Senti o cheiro de medo. Estavam mesmo apavorados. Fui andando em direção a um baixinho com cara de folgado. Eu avançando e ele recuando. Cheguei a sorrir quando estendi minha mão em direção ao seu pescoço. Ele tentou correr e até pensou que estava livre, mas apareci logo às suas costas e ele gritou desesperado. Implorou pela vida, como se esta valesse alguma coisa.  Esse eu mordi com vontade. Precisava de sangue para me manter e conseguir dar conta dos outros. Joguei o corpo de lado e procurei pelos outros 4. Tinham fugido os covardes. Deveria procura-los? Não..iria perder muito tempo e tinha que colocar meu irmão em segurança. Duvidei que aqueles homens pudessem tentar alguma coisa contra mim, ainda mais depois do que viram. Limpei o sangue da boca e fui ao encontro do meu irmão. O encontrei abaixado atrás de um contêiner. 
- Vamos Yuri, vou te levar pra casa. Diga a nossos pais...comecei a falar mas ele me interrompeu com um gesto.
 - Dizer o que Henrique? Que fomos sequestrados e que você é um vampiro e me tirou dessa? Desculpa, mas não vai dar. Se eu for pra casa você vai junto. Desculpa se tive medo, é que nunca vi você daquele jeito, foi terrível demais, mas eu te entendo. Acho que no teu lugar teria feito a mesma coisa. Não me importa o que você é agora, me importa o que sempre foi pra mim. Você sempre cuidou de mim, sempre esteve por perto, como agora. E eu não vou te deixar ir embora.
Abracei meu irmão. Senti um imenso alívio. A verdade tinha sido contada..da pior forma. Eu havia jogado bem alto, mesmo sem querer, mas mesmo assim, ainda tinha ganho a partida. Foi um golpe de sorte.
-Henrique, como a gente vai sair daqui? Nem sei onde estamos. E como vamos explicar isso tudo em casa, tem alguma ideia?
Não tenho, cara..não tenho.
E não tinha mesmo, tudo o que acontecera fora fruto da minha falta de controle. E depois da necessidade de manter a vida do meu irmão. Eu não tinha planejado nada, simplesmente aconteceu e pronto.
- Bom..antes de mais nada precisamos saber onde a gente está – falei indo em direção a rua que, dado o horário estava deserta. Consegui achar a placa  com o nome mas não adiantou de nada. São Paulo é muito grande e existem lugares que jamais tinha ouvido falar. O melhor que a gente tem a fazer é pegar um táxi. Vamos procurar um ponto, deve ter um em algum lugar por aqui.
Eu ia calado,pensando no que dizer quando chegasse em casa. É logico que tudo aquilo iria acabar aparecendo no noticiário. Tiana tinha ficado em casa, e, a essas alturas já teria contatado meus pais.
Chegamos a uma avenida que deveria ser a principal daquele bairro e daí até achar um táxi não foi difícil.
- Estão indo pra onde? - o motorista perguntou antes de nos deixar entrar – já era bem tarde e dois caras poderiam ser perigosos.
- Por favor, nos leve até Alphaville senhor. - Yuri se adiantou dando o endereço. Eu estava cansado, a jaqueta encobria o sangue dos ferimentos e tive que me concentrar a fim de passar despercebido por algum tipo de observação mais atenta por parte do taxista. 
- Alphaville? Como vieram parar em Ferraz de Vasconcelos? Estão bem longe de casa hein..e o motorista riu, provavelmente achando muito engraçado dois boyzinhos de Alphaville enfiados na periferia.
- Viemos visitar um amigo e Yuri deu a conversa por encerrada.
O trajeto foi feito em silêncio, me ajeitei como pude no banco de trás, sentindo um pouco de dor por conta dos vários tiros que tinha levado.  Chegamos em casa e a primeira coisa que notei foi o carro do meu pai.
Ótimo..era tudo o que eu precisava, o coroa estava  em casa e agora teria que explicar o que tinha acontecido. Fora o carro do meu pai, haviam também varias viaturas do grupo anti-sequestro. Então eles haviam sido acionados. Eu estava em maus lençóis.
Yuri olhou para mim como se perguntando o que faríamos e eu não sabia. Se fosse somente meu pai até que poderia dar um jeito..ou melhor não poderia porque a Tiana viu os caras levando a gente. Acho que teria sido melhor ter ficado por lá, e poderíamos mesmo ter esperado se não fosse a maldita fome. E agora?
Bom..ficar lá parado igual dois espantalhos não parecia ser o mais inteligente e já que era inevitável o melhor seria enfrentar a situação.
Passamos por dois investigadores que ficaram nos olhando. Novamente tive de me concentrar para que não me olhassem mais atentamente . A porta de entrada estava aberta. A sala cheia de policiais e entre eles, parecendo um titã, estava meu pai. Porque eu sempre tinha que gelar ao vê-lo? Porque não podia me comportar normalmente? Porque a simples presença do meu pai tinha a capacidade de me fazer parecer um bebê de fraldas?
Minha mãe, ao nos ver, deu vazão a toda sua teatralidade. Correu em nossa direção, nos abraçando e beijando, chorando e rindo ao mesmo tempo. Era muito estranha minha mãe. Acho que nos amava a seu modo, mas seu mundo girava em torno dele...tudo era por ele, nós, seus filhos éramos apenas consequência.
Meu pai, pego de surpresa pela nossa chegada exitou por um milésimo de segundo, para logo depois, retomar sua costumeira postura. Imperativamente dirigiu-se ao delegado.
- Como vê meus filhos estão em casa sãos e salvos. Creio que você e seus homens podem se retirar Fábio. Obrigado pela presteza e se precisar de seus serviços novamente entro em contato.
O delegado ia tentar argumentar alguma coisa pois abriu a boca e em seguida fechou. Debater com meu pai era algo que ninguém gostava de fazer. Ele sempre ganhava, de um jeito ou de outro.
Antes que o policial saísse, meu pai entregou a ele um envelope. Creio que era grana..ele sabia que cada pessoa tem um preço e não exitava em pagar contanto que tudo saísse da forma que ele desejava.
Após a saída dos policiais, ficamos ali parados. Yuri e eu, esperando que meu pai dissesse alguma coisa. Depois de seu show particular, minha mãe estava calmamente sentada no sofá, admirando seu novo bracelete.
- Pai...comecei a falar e fui interrompido.
- Shitt...e então ele mediu-me da cabeça aos pés, senti seus olhos sobre mim e era como se lesse minha alma. Aquilo sempre me deixou inquieto e agora mais ainda.
- Não preciso de explicações Henrique.
Saiu da sala sem uma única palavra a mais. Minha mãe vendo que ele subia as escadas apressou-se em segui-lo e ficamos apenas eu e Yuri na sala. Sem entender nada. Tínhamos nos preparado para enfrentar um dragão que não existiu. Meu pai nem sequer mencionara minha ausência prolongada, não falara nada sobre minha súbita mudança...nada..apenas, e como sempre, o maldito silêncio. Viver naquela casa e dividir o mesmo espaço com ele seria uma tarefa complicada..mas eu ficaria. Ali era minha meu espaço também e ele teria que me engolir.  

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