São Paulo, 10 de abril
de 2011
Não vou negar que “notoriedade” abre algumas portas. Por conta
dela, pude entrar em territórios que até então me eram proibidos e
também conhecer muitas e singulares criaturas. O mundo dos vampiros,
no geral, não difere muito do mundo dos “mortais”, aos poucos
perdemos os conceitos de moral e bons costumes, mas guardamos coisas
que nos prendem ao mundo dos viventes. Conheci, então, vampiros
depressivos, filósofos, agressivos, psicopatas..enfim uma variedade
bem grande de cores e tamanhos.
Em muitas dessas 'incursões” meu irmão tem sido minha
companhia frequente. Gosto de estar com o Yuri e ouvir suas opiniões
a respeito de coisas que ele vê com mais clareza do que eu. O frio e
sórdido jogo da política que norteia as relações vampíricas
tanto quanto norteia as relações humanas, as trocas de favores, a
ambição, a cobiça, a inveja..tudo isso é muito mais palpável
neste meu mundo. Há que se ter imenso jogo de cintura para entrar e
sair dos buracos dos ratos sem ser mordido por eles.
Voltei ao Madame só para sentir o gosto de impor minha
presença ao Maurício. Gostei de ver a cara de contrariedade daquele
idiota enquanto me recebia como se fossemos amigos de infância. Por
conta desta minha nova condição de “celebridade”, a entrada do
meu irmão foi permitida. Fiquei então sabendo que muitos humanos
sabem da nossa existência e compactuam com nosso estilo de vida.
Então o Madame era de fato um curral onde o gado pastava calmamente
apenas esperando que chegássemos e nos servíssemos. Naquela noite em
específico, não estava ali para caçar exatamente, queria
aproveitar com o meu irmão, queria que ele conhecesse um pouco mais
do meu mundo e o “Self Service” era, até então, a maior e
melhor vitrine.
Não
pegamos a fila..pudemos entrar sem “revista” e com passagem
livre. Ah..como é bom ser VIP. Yuri olhava para tudo fascinado.
Talvez nem tanto pelo ambiente em si, mas por estar fazendo parte de
algo que ele considerava como sendo “proibido”.
Fomos em direção ao bar; passando por um grupo de
garotas percebi uma em especial olhando para mim. Bonita..mas não
obrigado, naquela noite não..quem sabe em outra oportunidade. Pedi
um drinque para mim e uma cerveja para meu irmão..ele me olhou
espantado e se apressou em pegar a bebida, temendo que eu mudasse de
ideia.Nunca fui conservador ou moralista, mas cuidar do meu irmão e
mante-lo longe de encrencas era tarefa que considerei sempre de suma
importância. Ficamos bebendo e conversando por um bom tempo. Yuri
parecia interessado na guria que não parava de olhar em nossa
direção. Incentivei uma investida – Vai lá cara..ela tá olhando
pra você!
- Ah
claro...claro..tá olhando pra mim né? Conta outra..mas quer
saber..foda-se – e lá se foi meu irmão em busca de diversão.
E não é
que ele levou a garota bem mais rápido do que eu pensava? Peraí..eu
já tinha visto isso antes, conhecia o mecanismo. Não..não..meu
irmão não era um vampiro..mas que diabos era aquela aura de atração
animal? E porque eu nunca tinha percebido isso antes?
Não tive
muito tempo para ficar pensando. Minha atenção foi desviada pela
entrada de alguém. Aliás.não só a minha mas a da metade dos
homens que estavam ali naquela noite.
Uau!! O
que era aquilo? Ou melhor..quem era? Não conseguia desviar meus
olhos da mulher que acabara de entrar. Sempre tive uma “despencada”
por ruivas..mas ela, sem dúvida alguma, era uma visão de deixar
qualquer um fora de órbita. Não somente pela aparência..mas pelo
magnetismo. Cabelos de fogo..ah..que vontade que tive de enroscar
minhas mãos naqueles cachos..pareciam tão macios..tão sedosos. A
pele naturalmente pálida..olhos verdes..a boca..Ah..a boca era um
capítulo à parte. Existem lábios que pedem para serem
beijados..explorados..e ela tinha esse tipo de boca. Levemente
arqueada..como se zombasse do desejo que despertava. Ruivas deveriam
ser proibidas de saírem às ruas..deveriam ter porte de arma as
malditas! A roupa deixava entrever a perfeição. Não estava vestida
de forma espalhafatosa. Muito pelo contrário..até discreta..mas
tudo nela era uma promessa. Calça preta e justa..uma singela camisa
branca..um decote que deixava os pensamentos fluírem soltos..e o
ponto alto: Um corselete. Ah..corselete e cinta-liga..minhas maiores
perdições. Ah...e ela tinha sardas. Pequenas sardas espalhadas pelo
rosto..o que lhe dava um ar juvenil. A maquiagem não era pesada..na
verdade tudo muito natural. Naturalmente afrodisíaco..naturalmente
arrasador.
Meus pés
me levaram até ela. Em um minuto estava no bar tomando cerveja e no
outro estava diante daquele monumento à loucura. Ela então sorriu
pra mim e mergulhei naqueles olhos, era um mergulho no nada e sabia
que poderia me afogar mas não tive escolha. Sem raciocínio, sem
pensamentos, sem tempo e muito menos espaço. A puxei pela nuca e ela
correspondeu em completo abandono, como se estivesse à minha espera
por muito tempo. Seria um reencontro? Seria uma ilusão, uma espécie
de miragem? O mundo deixou de existir, não ouvia mais o murmúrio
das vozes dos frequentadores do Madame, não ouvia mais a música. A
minha frente, somente ela, seu corpo que chamava por mim, suas mãos
que deslizavam pelos meus braços, apertando, arranhando. Aquela boca
deslizando pelo meu pescoço, causando sensações que pensei já ser
imune. Estava sendo seduzido? Não..era mais do que simples sedução.
Era loucura total e completa. Ela foi me empurrando para algum canto
e não resisti..não poderia por mais que quisesse. Um dique havia se
rompido dentro de mim e o animal que havia me tornado, clamava por
liberdade. Minha camiseta foi rasgada e fiz o mesmo com a blusa dela.
Pude ver a lingerie..delicada peça de renda que mal escondia os
seios brancos e fartos. E que perfume...tudo foi rápido e ao mesmo
tempo me pareceu durar séculos. Quando abri novamente os olhos ela
ainda estava lá..me olhando em desafio. Percebi então um filete de
sangue escorrendo de sua boca. Tinha me mordido? Ah..maldita! Uma
vampira e eu não percebi! Que merda..e agora?
Passou a
mão em suave carícia pelo meu rosto, um sorriso de dentes alvos,
os olhos ardendo febrilmente e uma expressão de puro prazer.
-Ei...parece
que hoje dei a sorte grande – a voz era rouca e tremendamente sexy.
- Me desculpe..mas não resisti a você. Aproximou-se mais..colando
o corpo ao meu. Não é todo dia que se encontra um espécime como
você..me diga como consegue ser tão humano e ao mesmo tempo tão
demoníaco.? Pensando bem..não diga nada – beijou-me novamente e
começei a ficar embriagado, mas resisti. Um pouco de distância não
faria mal.
- Para com isso! - Foi uma batalha conseguir me desvencilhar daquelas
mãos e quase desisti. Você não pode chegar desta forma, me
morder, e ficar aí como se nada tivesse acontecido. Nem sei o seu
nome.
Estava me
comportando como um idiota e sabia disso..mas o perfume daquela
mulher não me deixava seque pensar direito. Invadia meus sentidos de
um jeito muito..muito estranho.
- Ah..quanta
formalidade..- ela riu debochando da minha estoica tentativa de
manter o controle. Nomes são tão fugazes..posso dar-me um nome
agora mesmo e você não terá como provar se estou mentindo ou
falando a verdade. - a maldita estava se divertindo às minhas
custas..avançando em minha direção.- Fique onde está! Nem vem...olha..sei que aconteceu alguma coisa muito esquisita aqui e você vai me explicar direitinho quem é e o que quer.
- Tenho mesmo que dar explicações? Seria tão mais divertido se você deixasse fluir o que sente – quantas mãos ela tinha? - parece que era um polvo..com muitos tentáculos porque sentia o seu toque em muitas regiões do meu corpo. Sufoquei um gemido.
- Já disse para parar cacete!! Quem diabos é você?!
- Ok...vou me apresentar já que dá tanta importância a isso. Meu nome é Alexia e sou uma visitante. Cheguei de viagem a pouco tempo e fiquei sabendo que havia uma “novidade” a solta pela cidade. Sim..eu sei o seu nome, sei quem você é e agora sei que é muito mais do que dizem por aí..tem um sangue delicioso Henrique! Se importa se eu experimentar mais um pouco?
- Tá louca é? Nem a pau que você vai me morder de novo. Sou idiota apenas uma vez. Pois bem.já que sabe quem eu sou...podemos passar para a próxima fase. Porque me mordeu? É hábito vampiros sairem por aí mordendo uns aos outros?
- Uhhh..tão enfático...- continuava a brincar comigo como um gato que brinca com sua presa.- Não..não é hábito, mas sou uma fetichista..e não resisti. - Novamente as mãos no meu peito..deslizando suavemente e arranhando..Tem ainda muito o que aprender mocinho..e me daria imenso prazer se aceitasse algumas aulas minhas..tenho certeza de que nos divertiremos muito. - dizendo isso – pegou um cartão e me entregou. Vá até minha casa e conversaremos com mais calma. Agora tenho que ir..passei por aqui só para conferir as novidades..tenho que agradecer ao Maurício pelo convite. Deu-me então outro daqueles beijos de tirar o fôlego e partiu...
Fiquei
ali com o cartão de visitas na mão..nem olhei..acabei guardando-o
no bolso da jaqueta. Tentava entender o que tinha acontecido ali..mas
a realidade suplantava toda a lógica do meu arsenal. Porque estava
me sentindo daquele jeito? Porque estava quase eufórico? Como ela
havia mexido tanto assim comigo?
Só me
restava esperar por uma oportunidade de revê-la. Fiquei no bar
esperando meu irmão enquanto tomava uma cerveja. Esperei por mais de
2 horas e quando, finalmente ele apareceu, vinha todo satisfeito...eu
não havia reparado em como Yuri estava diferente..algo nele estava
mudando e de forma muito rápida. Mais um ponto de interrogação na
minha mente..mas naquela noite não tinha condições de ficar
pensando muito. Me sentia leve e ao mesmo tempo esgotado..
- Bem..acho
que podemos ir Yuri..tenho que descansar um pouco.- Cara...você tá com cara de quem comeu e gostou muito hein? Parece até que andou usando alguma coisa..tá brisado.
- Fala isso porque ainda não se olhou no espelho irmãozinho....
Ele
apenas soltou uma gargalhada. Naquela noite muitas coisas estranhas
tinham acontecido, mas eu não queria analisar nada..só queria minha
cama, só queria fechar os olhos e relembrar meus momentos com
Alexia. Talvez eu aceite o convite.
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