São Paulo 04 de
fevereiro de 2011.
Círculo
Interno...o nome me soou como sendo algo realmente grande. Pensei
logo naqueles filmes todos que já tinha visto. Será que iria parar
em alguma reunião com os manda-chuva do pedaço? Se existisse alguém
que soubesse do que se tratava esse tal “círculo” esse alguém
se chamava Moacir. Peguei a moto e fui até o apartamento do velhote.
Não tinha tido tempo de ficar praticando telepatia. Nem tempo nem
com quem treinar. O jeito era apelar para o bom e velho porteiro e
seguir a forma clássica de chegar na casa de alguém sem ter sido
convidado.
O
porteiro demorou a me mandar subir, acho que tomei uma canseira de
uma meia hora. O velhote devia estar ocupado ou talvez tivesse
perdido as pantufas em algum lugar e não quisesse me receber
descalço.
Não sei
porque não trocavam o elevador daquele prédio. Elevadores de
alavanca são lentos e muito barulhentos. Talvez fosse uma forma de
cultuar o jeitão decadente dos anos 20 ou coisa assim,mas que aquilo
era estranho era. Assim que o elevador chegou ao andar a porta se
abriu e Moacir fez com que eu entrasse. Pela segunda vez me senti
estranho naquele lugar. Era como se entrasse em uma outra
dimensão.Sentia o peso de mil anos ali..cheiro de biblioteca e
naftalina.
- Como
vai Henrique, desculpe-me por fazê-lo esperar, deveria ter me
avisado de sua visita. Não usa telepatia.?
Cocei a
cabeça meio sem jeito. Era difícil admitir que além de não usar a
telepatia, não sabia como fazê-lo. Mais um ponto negativo para
minha criadora. Tinha sido relapsa não me ensinando.
- Na
verdade não sei como fazer isso, Clara não me ensinou.- Não me diga – fez um gesto de desagrado – Que grande falha a dela. Mas podemos corrigir isso se for de seu interesse. A telepatia, meu caro, é de grande utilidade para nós. O uso dela pode vir a ser crucial em alguns casos. Muito mais do que um celular. Creia-me. Mas me diga..o que o traz à minha casa?
Contei
então sobre minha ida ao Madame e o encontro com Mauricio. Moacir
ficou intrigado com o fato de Clara ter ido embora, abandonando seu
território.
- Isso,
Henrique, não é usual. Vampiros dificilmente deixam seus
territórios, ainda mais quando esse território é um dos mais
disputados da Cidade. A região central é, sem dúvida alguma, a
mais desejada. Ela deve ter tido um grande motivo para ir embora
desta forma.- Se teve ou não motivo isso não me importa mais. A única coisa que me interessa é saber porque serei convidado para conhecer esse tal “circulo interno”. E qual a razão da minha “notoriedade” entre os vampiros.
Moacir
riu e até que comecei a simpatizar com aquela figura, mas estava
longe de me sentir seguro em sua presença.
- Realmente
você tem muito o que aprender meu jovem. Veja bem, vampiros como
você são tão raros quanto a Painite.- Pain..o que?
- Painite Henrique...Painite. É uma pedra preciosa extremamente rara. O primeiro exemplar foi encontrado em 1950 em Burma, após isso, apenas mais duas pedras foram achadas.
- Ah tá...mas porquê isso? Porque sou tão raro?
- Por causa da sua “matriz” genética. Como é “cria” da Clara..você traz características singulares meu jovem. Já deve ter reparado, por exemplo, que tem aparência de uma pessoa normal e que seus órgãos funcionam, muito embora de forma mais lenta.
- Mas isso não acontece com todos?
- Não..eu por exemplo, estou efetivamente morto. Não como, não bebo e não respiro.
- Ah tá..e isso tem a ver com Lilith não é?
- Digamos que sim. Eles, do círculo interno, devem estar querendo comprovar a veracidade dos boatos que estão correndo por aí.
- Que boatos?
- Quanto a isso já não posso dizer, terá que esperar o convite chegar.
Fiquei
frustrado. Tudo era muito vago. Sabia da minha suposta “origem”
mas qual era a efetiva diferença entre mim e os outros, além é
claro, de não parecer um vampiro.
- Me
diz uma coisa Moacir, se todos os vampiros descendem de Lilith,
porque uns são mortos-vivos e outros não?- Todos são mortos..apenas os raros é que não são. Na verdade Henrique, até mesmo a Clara que foi criada, supostamente, por Lilith está morta. Até mesmo ela, que dizem ser cria direta, não tem suas habilidades. Você intriga até mesmo nossa comunidade científica. Como já disse..é extremamente raro. Não me lembro de ter ouvido falar em algum caso parecido.
Legal!
Agora eu estava ainda mais confuso. Uma aberração entre aberrações.
Antes de
ir, recebi aulas de telepatia. Foi a coisa mais natural do mundo
dominar aquela habilidade, como se eu já soubesse..e tivesse apenas
que relembrar. Moacir ficou espantado com minha velocidade de
aprendizado e creditou isso ao fato de eu ser algo raro.
Quando
fui pegar minha moto, notei que me observavam de longe, mas já
estava acostumado com isso. Montei na moto e parti. Não estava
disposto a procurar por nenhum tipo de contato naquela noite. Eu
tinha marcado uma partida de vídeo-game com meu irmão e não iria
me atrasar.
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