segunda-feira, 4 de maio de 2015

O círculo





São Paulo 04 de fevereiro de 2011.


Círculo Interno...o nome me soou como sendo algo realmente grande. Pensei logo naqueles filmes todos que já tinha visto. Será que iria parar em alguma reunião com os manda-chuva do pedaço? Se existisse alguém que soubesse do que se tratava esse tal “círculo” esse alguém se chamava Moacir. Peguei a moto e fui até o apartamento do velhote. Não tinha tido tempo de ficar praticando telepatia. Nem tempo nem com quem treinar. O jeito era apelar para o bom e velho porteiro e seguir a forma clássica de chegar na casa de alguém sem ter sido convidado.
O porteiro demorou a me mandar subir, acho que tomei uma canseira de uma meia hora. O velhote devia estar ocupado ou talvez tivesse perdido as pantufas em algum lugar e não quisesse me receber descalço.
Não sei porque não trocavam o elevador daquele prédio. Elevadores de alavanca são lentos e muito barulhentos. Talvez fosse uma forma de cultuar o jeitão decadente dos anos 20 ou coisa assim,mas que aquilo era estranho era. Assim que o elevador chegou ao andar a porta se abriu e Moacir fez com que eu entrasse. Pela segunda vez me senti estranho naquele lugar. Era como se entrasse em uma outra dimensão.Sentia o peso de mil anos ali..cheiro de biblioteca e naftalina.
 - Como vai Henrique, desculpe-me por fazê-lo esperar, deveria ter me avisado de sua visita. Não usa telepatia.?
Cocei a cabeça meio sem jeito. Era difícil admitir que além de não usar a telepatia, não sabia como fazê-lo. Mais um ponto negativo para minha criadora. Tinha sido relapsa não me ensinando.
- Na verdade não sei como fazer isso, Clara não me ensinou.
- Não me diga – fez um gesto de desagrado – Que grande falha a dela. Mas podemos corrigir isso se for de seu interesse. A telepatia, meu caro, é de grande utilidade para nós. O uso dela pode vir a ser crucial em alguns casos. Muito mais do que um celular. Creia-me. Mas me diga..o que o traz à minha casa?
Contei então sobre minha ida ao Madame e o encontro com Mauricio. Moacir ficou intrigado com o fato de Clara ter ido embora, abandonando seu território.
- Isso, Henrique, não é usual. Vampiros dificilmente deixam seus territórios, ainda mais quando esse território é um dos mais disputados da Cidade. A região central é, sem dúvida alguma, a mais desejada. Ela deve ter tido um grande motivo para ir embora desta forma.
- Se teve ou não motivo isso não me importa mais. A única coisa que me interessa é saber porque serei convidado para conhecer esse tal “circulo interno”. E qual a razão da minha “notoriedade” entre os vampiros.
Moacir riu e até que comecei a simpatizar com aquela figura, mas estava longe de me sentir seguro em sua presença.
- Realmente você tem muito o que aprender meu jovem. Veja bem, vampiros como você são tão raros quanto a Painite.
- Pain..o que?
- Painite Henrique...Painite. É uma pedra preciosa extremamente rara. O primeiro exemplar foi encontrado em 1950 em Burma, após isso, apenas mais duas pedras foram achadas.
- Ah tá...mas porquê isso? Porque sou tão raro?
- Por causa da sua “matriz” genética. Como é “cria” da Clara..você traz características singulares meu jovem. Já deve ter reparado, por exemplo, que tem aparência de uma pessoa normal e que seus órgãos funcionam, muito embora de forma mais lenta.
- Mas isso não acontece com todos?
- Não..eu por exemplo, estou efetivamente morto. Não como, não bebo e não respiro.
- Ah tá..e isso tem a ver com Lilith não é?
- Digamos que sim. Eles, do círculo interno, devem estar querendo comprovar a veracidade dos boatos que estão correndo por aí.
- Que boatos?
- Quanto a isso já não posso dizer, terá que esperar o convite chegar.
Fiquei frustrado. Tudo era muito vago. Sabia da minha suposta “origem” mas qual era a efetiva diferença entre mim e os outros, além é claro, de não parecer um vampiro.
- Me diz uma coisa Moacir, se todos os vampiros descendem de Lilith, porque uns são mortos-vivos e outros não?
- Todos são mortos..apenas os raros é que não são. Na verdade Henrique, até mesmo a Clara que foi criada, supostamente, por Lilith está morta. Até mesmo ela, que dizem ser cria direta, não tem suas habilidades. Você intriga até mesmo nossa comunidade científica. Como já disse..é extremamente raro. Não me lembro de ter ouvido falar em algum caso parecido.
Legal! Agora eu estava ainda mais confuso. Uma aberração entre aberrações.
Antes de ir, recebi aulas de telepatia. Foi a coisa mais natural do mundo dominar aquela habilidade, como se eu já soubesse..e tivesse apenas que relembrar. Moacir ficou espantado com minha velocidade de aprendizado e creditou isso ao fato de eu ser algo raro.
Quando fui pegar minha moto, notei que me observavam de longe, mas já estava acostumado com isso. Montei na moto e parti. Não estava disposto a procurar por nenhum tipo de contato naquela noite. Eu tinha marcado uma partida de vídeo-game com meu irmão e não iria me atrasar.


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